60 anos da UFC: Universidade e democracia

Artigo assinado por José Raimundo publicado no O Povo

 

“A estrutura de poder imperante no seu interior não condiz com a grandeza de sua função social e produção intelectual”

Universidades são instituições “pluridisciplinares de formação de quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano”. “São centros de criação, transmissão e difusão da cultura, da ciência e da tecnologia”, com foco e finalidade na formação e desenvolvimento humano. O interior orgânico dessas instituições deve constituir-se de ambientes ricos de conhecimento e saudáveis de convivência. No caso da Universidade Federal do Ceará (UFC), os indicadores de avaliação institucional nos âmbitos do ensino, da pesquisa e da extensão apontam que a ambiência do conhecimento e da produção intelectual stricto e latu sensu vai muito bem.

Entretanto, pode-se afirmar, categoricamente, que os ambientes que dão suporte administrativo e técnico ao fazer institucional no que se refere ao convívio harmônico e saudável das pessoas que neles atuam deixam muito a desejar. Está-se, pois, diante de um enorme paradoxo: a Universidade vai bem, mas os atores e autores que participam e contribuem para o processo do seu desenvolvimento não vão bem na mesma proporção. A estrutura de poder imperante no seu interior não condiz com a grandeza de sua função social e produção intelectual. A começar pelo processo de escolha dos candidatos a reitor para composição da lista tríplice a ser encaminhada à Presidência da República objetivando a nomeação do reitor.

Esse processo, conduzido pelo Conselho Universitário, estabelece uma divisão “hierárquica” da comunidade universitária conferindo ao voto dos docentes o peso de 70%, 15% aos técnico-administrativos e 15% aos estudantes. O nome disso é segregação ou apartheid institucional. Em decorrência, os “territórios institucionais” são ocupados a bel-prazer do reitor eleito, sem nenhuma discussão com a comunidade universitária que fica à mercê de suas ordens e “desordens”.

Os três segmentos que estruturam as universidades – alunos, técnico-administrativos e docentes –, possuem e desenvolvem responsabilidades que se completam para dar conta do trabalho institucional, cada um no seu lugar, cada qual na sua função, mas unidos e imbuídos em um só propósito: oferecer à sociedade brasileira os preceitos teóricos e práticos fundamentais para o seu desenvolvimento, nas suas mais variadas demandas.

A autonomia universitária, constitucionalmente garantida, fica para trás, aliás, só é aplicada quando lhe convém. Se a Universidade não pode arguir sua autonomia para vencer os argumentos da lei, pelo menos poderia fazer valer sua soberania e instalar, conceitualmente e de forma definitiva, a democracia dentro dela. Daí a necessidade premente da sociedade civil participar e discutir de forma frequente o que acontece tanto nos fóruns administrativos como no meio acadêmico, na pesquisa e extensão, por se tratar de investimento alto custeado pela população.

José Raimundo Soares
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Coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (Sintufce)

Artigo publicado na editoria de OPINIÕES.DOM 05/07/2015, no jornal O Povo.

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