O que é o trabalho? De forma bem simplista é a atividade sobre a qual se emprega força em prol um resultado. Nos dias atuais, para a maioria da população, o objetivo é obter o sustento. Dessa forma estamos, todos nós, trabalhadores, coagidos a trabalhar simplesmente pelo fato de que temos a necessidade disto. Este é um ponto.
Outro é o fato de que a maioria das pessoas trabalham para outras pessoas, as quais se apropriam dos frutos do trabalho dos primeiros em troca do pagamento de um salário, sempre menor do que o valor produzido pelos trabalhadores.
As pessoas que precisam vender sua força de trabalho têm que saber como executar as atividades para as quais foram contratadas. Isso demanda Educação, atividade indissociável ao trabalho.
Ao lado do produtivo estava sempre o lúdico e o criativo. No entanto, durante boa parte da história do capitalismo, o criativo foi escorraçado do local de trabalho e o lúdico foi reservado à escola. A Administração moderna, ciência ensinada nas Universidades e um dos cursos de graduação mais procurado por jovens no Brasil, teve início no fim do Século XIX e início do Século XX, através dos experimentos de Taylor para aumento da produtividade. Eram basicamente estudos de tempo e movimento. Infelizmente a Administração teve seu “pontapé inicial” com a busca de um engenheiro em “zumbificar” os trabalhadores, retirando-lhes a iniciativa e ditando-lhes não apenas como fazer o trabalho, mas determinado em quanto tempo.
O tempo, deixou de ser medido pela luz do sol e passou a ser contado em horas, minutos e segundos e o trabalhador foi confinado a repartições enormes, isolado do mundo por horas a fio. Isso adoecia o trabalhador, transformado em simples número, não mais sob o chicote do feitor, mas sob a planilha de controle do gestor, que passou dos livros de registro e dos cartões perfurados aos moderníssimos leitores de digital e sistemas de gestão de RH.
Este século conheceu também uma infeliz inversão. Quando as mais avançadas técnicas de gestão aposentam os registros de ponto, os órgãos de controle brasileiros, simulacros modernos de Torquemada e seus asseclas, acham por bem impor o ponto eletrônico às universidades brasileiras. E pasmem! Fazem isso sem isonomia, impondo aos Técnicos Administrativos em Educação o fardo de estarem no Século XXI operando uma Universidade como se estivessem em uma fábrica do século passado.
Não estamos apenas a apertar botões! O ponto eletrônico piora nossa qualidade de vida, tornando rígido os horários para atividades que, por sua natureza, deveriam ser as mais flexíveis. Estão criando mais um problema em vez de solucionar os que já existem.
Nossas considerações miram um setor que ocupa posições chaves na Educação e no desenvolvimento tecnológico brasileiro: os servidores técnico-administrativos em Educação, que atuam nas Instituições Federais de Ensino. De Norte a Sul do país, esses trabalhadores têm se esforçado, mesmo diante da precarização e dos famigerados cortes do governo golpista, a dar o suporte necessários às atividades de alunos e professores e, ainda, contribuído com pesquisas e participação nos diversos debates da educação brasileira.
O que se tem visto nos dias atuais é que a gestão de muitas destas instituições, ignorando as características e peculiaridades do trabalho destes servidores, têm tentado implantar o ponto eletrônico. Uma atitude canhestra e que, quando justificada apenas por necessidade de adequação à lei, acaba por evidenciar, que para muitos, a questão da autonomia universitária é algo relativo. A questão não é ser contra o controle de frequências, mas sim que esse controle possa ser realmente efetivo, podendo dar conta de atividades tão ricas de nuances quanto as desempenhadas pelos servidores das Instituições Federais de Ensino.
O momento pede a união de gestores e de servidores para dar combate aos cortes e projetos que desfiguram a Universidade, propondo alternativas não só a essa estrovenga chamada de ponto eletrônico, mas a todas as políticas que ameaçam a Universidade Pública, sua gratuidade e sua qualidade. Reafirmamos nossa posição contrária ao ponto eletrônico, por ferir a autonomia universitária e por ser um instrumento que vai piorar as relações de trabalho dos TAE nas Universidades.
Diretoria Colegiada do Sintufce