Prestes a assumir pela primeira vez a função de vereadora pelo partido Partido Socialismo e Liberdade( PSOL), a professora Anna Karina conversou com o SINTUFCe sobre as expectativas em relação ao mandato de vereadora durante o mês de março, mês da mulher – Karina é conhecida pela luta feminista e uma maior participação das mulheres na política, e também sobre a reformulação do PCCTAE.
“É importante que todo mundo saiba que não existe universidade pública com qualidade sem as pessoas que fazem a universidade acontecer”, revela.
Natural de Baturité, casada, mãe de dois filhos, a historiadora Anna Karina vive em Fortaleza desde 1983. Trabalha como professora de História da rede estadual de ensino do Ceará mas é conhecida como ativista da educação, da Frente Nacional em Defesa do SUS, da luta anticapacitista e, sobretudo, dos movimentos de mulheres. Ajudou a fundar e a organizar o núcleo de gênero Stephanie Brito, nome de uma ex-aluna, vítima de feminicídio.
SINTUFCe – Qual a expectativa com o mandato e o que ele significará para as pautas das mulheres e também da educação?
Anna Karina – A expectativa é gigante, até porque as responsabilidades são gigantes. Fortaleza é a cidade mais feminina do estado do Ceará: São 100 mulheres para cada 86 homens. Segundo o IBGE, somos quase 174 mil mulheres a mais do que homens. Mulheres que, de uma forma ou de outra, cuidam dessa cidade. É assim na saúde, onde mulheres acompanham filhos, maridos e pais nos mais diversos atendimentos. É assim na educação, onde as reuniões de pais e mestres mais parecem com reuniões de mães e mestres, ou mesmo de avós e mestres. É assim na economia doméstica, onde mulheres são as responsáveis por garantir que haja comida feita, roupa lavada, casa arrumada. Mas não é assim na política. Na Câmara de Vereadores somos somente 9 de 43. Nossa mandata expressará exatamente essa disparidade e a necessidade de enfrentá-la, e até por isso estamos nomeando esse tempo na Câmara de Vereadores como Ocupação Feminista. E daremos neste período de ocupação, especial atenção aos temas das mulheres de nossa cidade e ao tema da educação pública para todos, até mesmo porque sou professora e tenho essa bandeira como prioridade em minha vida.
SINTUFCe – Como você apoia a luta dos TAEs?
Anna Karina – Toda brasileira e todo brasileiro que sonha entrar na universidade pública ou de ver sua filha ou filho na universidade pública, tem a obrigação de defendê-la. E é por isso que a gente defende mais verbas, mais concurso público, mais vagas, mais cursos e muito mais qualidade. E é importante que todo mundo saiba que não existe universidade pública com qualidade sem as pessoas que fazem a universidade acontecer. Entre elas, estão os Técnicos Administrativos em Educação (TAEs), que precisam ser enxergados e valorizados. A categoria está em uma luta que é mais do que justa, para que seja criado o seu Plano de Cargos e Carreira e para que o Governo Federal avance na negociação. Não é razoável que esteja sendo oferecido um reajuste de 0% para a categoria. Então, deixo registrado meu mais completo apoio e solidariedade, e já deixo firmado o compromisso de nossa mandata na Câmara de Vereadores de Fortaleza com sua luta.
Entenda
A bancada do PSOL em Fortaleza será 100% feminina durante março, mês da mulher. Isso porque o vereador Gabriel Biologia, que é do partido, protocolou nesta quarta-feira, 21 de fevereiro, um pedido de licença por interesse particular por até 120 dias na Câmara Municipal de Fortaleza. Com a mudança, deverá assumir mandato de vereadora pela primeira vez a professora Anna Karina (Psol), 2ª suplente do Psol em 2020.
Ele deverá retornar ao cargo já em abril, apesar da duração máxima prevista de 120 dias para a licença. O 1º suplente do partido, Ailton Lopes (Psol), aceitou o acordo e não tomará posse, abrindo espaço para a chegada de Karina.
Com isso, ela deverá atuar ao longo de março com o mandato coletiva Nossa Cara (Psol), representado oficialmente na Casa por Adriana Gerônimo. Com 4.834 votos na última eleição municipal, Anna Karina tem histórico antigo de militância no Psol cearense. Em 2018, ela chegou a disputar pelo Senado, recebendo 316,9 mil votos.
