Liderança sindical nacional, Vânia Helena Gonçalves destaca papel do SINTUFCE nas lutas da categoria TAE e no enfrentamento à extrema-direita

Vânia Gonçalves

Convidada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (SINTUFCE), a dirigente sindical Vânia Helena Gonçalves esteve em Fortaleza como observadora do processo eleitoral que definirá a nova Diretoria Colegiada e o novo Conselho Fiscal da entidade para o triênio 2025–2028. Membro titular da Comissão Nacional de Supervisão da Carreira (CNSC) pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA), Vânia é servidora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), coordenadora geral do SINTUFSCar e militante da corrente Travessia/TAES na Luta.

Durante sua passagem pelo Ceará, entre uma atividade e outra, a dirigente conversou com o jornalista do SINTUFCE, Gustavo Vieira-Baltazar, sobre temas centrais da conjuntura sindical e política.  Na entrevista, ela destacou a importância estratégica do SINTUFCE nas lutas nacionais da categoria dos servidores técnico-administrativos em educação (TAE), ressaltando o protagonismo da entidade na construção da proposta de reestruturação da carreira aprovada recentemente.

Vânia também abordou o cenário político nacional, os desafios impostos pelo avanço da extrema-direita, o papel dos sindicatos na defesa da democracia e a necessidade de ampliar a consciência de classe. Além disso, relembrou sua participação no CONSUFCE, congresso promovido pelo SINTUFCE em novembro de 2024, após mais de 15 anos sem edição, e o considerou um marco na reorganização política e estatutária da entidade.

Qual é a importância do SINTUFCE para o Brasil? Como o nosso sindicato é percebido fora do Estado do Ceará?

Durante a greve e nas discussões sobre a proposta de reestruturação da carreira, o embrião da proposta que acabou sendo aprovada nacionalmente surgiu aqui, no Ceará. Houve, posteriormente, um processo de construção coletiva, com modificações e aperfeiçoamentos, pois esse é o curso natural da luta: a gente propõe, soma forças e avança. O SINTUFCE teve um papel primordial e essencial nessa última greve. A base da proposta, o seu esqueleto, nasceu no Grupo de Trabalho (GT) nesse sindicato. Posteriormente, na construção nacional, houve mudanças e aperfeiçoamentos, e assim se chegou ao que conseguimos conquistar. Mas o SINTUFCE foi — e continua sendo — extremamente importante nesse processo.

 

Qual é o papel dos sindicatos na atual conjuntura política e social do Brasil e do mundo? 

Estamos em 2025. Muita coisa mudou. No congresso de vocês — que não era realizado há mais de 15 anos — foram atualizadas diversas pautas. Hoje, temos questões muito específicas dos servidores técnico-administrativos em educação (TAE), mas também pautas que dizem respeito à classe trabalhadora como um todo. Além disso, enfrentamos temas como a violação de direitos humanos e questões internacionais, como as guerras em curso.

O papel dos sindicatos se transformou bastante. Desde antes da pandemia, acompanhamos a ascensão da extrema-direita, com Jair Bolsonaro atacando diretamente os sindicatos e tentando nos transformar nos grandes vilões do país. Isso contribuiu para o enfraquecimento da imagem sindical perante a população. No entanto, durante a pandemia, os sindicatos desempenharam um papel essencial. No caso das entidades filiadas à FASUBRA (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil), realizamos campanhas solidárias e fomos os primeiros a distribuir Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), especialmente para os trabalhadores dos hospitais universitários, garantindo proteção e dignidade à vida.

Após a pandemia, o cenário piorou ainda mais, com o crescimento do extremismo e tentativas de golpe. Há pessoas que não compreendem que a defesa da democracia é central. O sindicato não pode se voltar apenas para si mesmo. A greve recente foi histórica e resultou em conquistas relevantes: a aceleração dos processos de capacitação e valorização salarial, especialmente para quem está no início da carreira ou com rendimentos mais baixos. Já para quem está no final da carreira, os impactos foram menores, o que é natural. Outro ganho importante foi o RSC (Reconhecimento de Saberes e Competências), cuja implementação começou em abril.

Essas conquistas fazem parte do papel do sindicato, mas não esgotam sua função. O sindicato precisa promover conscientização de classe e se posicionar diante das questões globais. O que acontece na Ucrânia, na Faixa de Gaza, nos Estados Unidos, no Irã ou em Israel nos afeta diretamente: seja pelo aumento do preço dos combustíveis, seja pelos discursos manipuladores da extrema-direita que jogam a culpa no governo de turno. Precisamos mostrar à nossa base que tudo o que acontece no mundo tem reflexos na nossa realidade. Se o sindicato se isola disso, ele se desconecta da sua principal função: formar consciência de classe.

O CONSUFCE foi um momento ímpar, em que avançamos em diversas frentes: discutimos um novo estatuto — o anterior estava defasado e arcaico —, debatemos assédio, diversidade e democracia interna. Um sindicato que não se debruça sobre essas pautas está, infelizmente, alienado da realidade.

Quais são os principais desafios da categoria TAE para o futuro? Estamos em estado de greve, houve conquistas, mas ainda há muitas reivindicações pendentes.

Sim, ainda temos uma série de pautas importantes que não foram atendidas. Mais do que pautas, temos um acordo de greve assinado que ainda não foi cumprido em sua totalidade. Entre os pontos pendentes estão: a jornada de 30 horas, o reposicionamento dos servidores aposentados, e a racionalização das funções — uma demanda antiga da nossa categoria que segue sem avanços. No caso dos aposentados, o impacto financeiro seria mínimo, mas ainda assim o governo não se comprometeu.

Essas são pautas internas e emergenciais. No entanto, olhando para o futuro próximo, vemos que o maior desafio será enfrentar novamente o avanço da extrema-direita. Está em jogo a manutenção ou não do Estado democrático de direito. Precisamos de um país onde seja possível fazer greve, protestar, se manifestar — inclusive contra governos. Se a extrema-direita vencer novamente, poderemos ter um Senado comprometido, com poderes constitucionais para intervir no Judiciário, o que representa um enorme risco aos nossos direitos.

Portanto, precisamos continuar mobilizados pelas nossas pautas específicas, mas sem perder de vista o cenário político mais amplo. Se a extrema-direita voltar ao poder com força total, tudo o que conquistamos nos últimos anos poderá ser destruído — ou, pior ainda, retrocederemos a um patamar inferior ao que já vivemos. Esse é, sem dúvida, o nosso grande desafio.

Que mensagem você gostaria de deixar para a base do SINTUFCE e para a nova gestão?

Quero, antes de tudo, parabenizar o SINTUFCE. Tanto a gestão que está encerrando seu mandato quanto a que está por vir — independentemente de quem vença o pleito — têm um grande desafio pela frente. O SINTUFCE é uma base extremamente importante para a FASUBRA. Está sempre presente nas lutas, nas manifestações, nas plenárias nacionais, e comparece com sua carga máxima de delegados. Nunca economizou esforços para garantir a participação da base nas instâncias de deliberação e nas mobilizações da categoria.

Por isso, digo com tranquilidade que o SINTUFCE está no caminho certo, vem cumprindo um papel fundamental na construção das lutas dos servidores técnico-administrativos em educação, foi peça-chave na greve nacional e, tenho certeza, continuará fazendo a diferença — independentemente de quem esteja na direção.

O que costumo dizer é o seguinte: precisamos preservar o sindicato, não apenas a diretoria. As gestões passam, mudam, mas o sindicato permanece. E é ele que precisa ser fortalecido. Por isso, deixo um chamado à base: filie-se, participe, venha para as atividades, contribua com a luta. Um sindicato com muitos filiados é um sindicato mais forte. É isso. Muito obrigada!

Vânia, durante sua participação no CONSUFCE
Vânia, durante sua participação no CONSUFCE