Luta pela paridade e a democratização das universidades federais cearenses é unificada em seminário

Sintufce, Adufc e DCE oficializaram o consenso da comunidade universitária em prol do avanço 

A paridade e a democratização das universidades federais cearenses foram tema de debate na última sexta-feira (24/04), em seminário promovido pelo Sintufce, Adufc e DCE  no auditório da Reitoria da UFC. A discussão é antiga na UFC, onde a Reitoria resiste, mantendo o sistema 70-15-15 para eleição de reitores, dando aos técnico-administrativos e alunos uma representação meramente simbólica. Na Unilab e na UFCA, os alunos e servidores ainda estão completamente excluídos do processo de decisão. 

 

A programação teve início às 9h e seguiu até as 17h. No período da manhã, a mesa foi composta pela presidente da Associação de Docentes Aposentados e Pensionistas de Docentes da Universidade Federal do Ceará (Adaufc), Lena Espíndola; a vice-presidente da Adufc, Lea Carvalho; o diretor geral da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), Gibran Jordão; a representante da comunidade estudantil, Silvia Cavalleire; e os coordenadores Gerais do SINTUFCE, José Raimundo e Keila Camelo. A organização e cerimonial foram conduzidos pela coordenadora de Educação e Cultura do Sintufce, Heveline Ribeiro. 

 

O evento foi transmitido pela internet, ao vivo, registrando 103 acessos. Os participantes ganharam uma blusa da campanha pela democratização com a frase “Paridade é POSSÍVEL!”.

 

A professora Lena Espíndola abriu o debate defendendo a paridade e relatando a sua experiência à época de sua candidatura à Reitoria da UECE.  “Na UECE, há essa mesma dimensão no processo eleitoral. Essa discriminação de atribuir um peso maior à categoria dos docentes desestimula a participação dos demais no processo de escolha”, relatou.  Lena Espíndola ainda provocou: “Somos sujeitos históricos responsáveis por manter ou mudar essa estrutura. Falta essa força para mudarmos os rumos dentro da universidade. Do contrário, vamos continuar fortalecendo essa estrutura que está aí. Precisamos discutir essa forma de exercício do poder, gerar a reflexão crítica e incentivar a cooperação”. 

 

Representando os professores das universidades federais do Ceará, Lea Carvalho também se posicionou a favor do sistema paritário. “Esse debate entrou com força na agenda das universidades públicas do Brasil, sobretudo a partir da democratização do país, no fim do sistema ditatorial. Esse sistema nas universidades remete a uma postura de controle, do exercício de poder centralizado nas mãos de poucos. Já são 25 anos, desde então. É momento de a gente repensar isso. 75% das universidades federais já têm a paridade. A posição da Adufc é contrária a essa postura e entendemos que não podemos ser uma das poucas universidades do país com esta estrutura tão antiga , fechada e pouco democrática”. 

 

Para Gibran Jordão, representante da Fasubra, “Temos um sistema (nas universidades do Ceará e em algumas outras poucas no país) mais ATRASADO do que a própria democracia burguesa que existe no país. Há uma contradição profunda, porque existem interesses que ainda não foram derrotados.  A autonomia está refém dos interesses do MEC, da Andifes e dos docentes que controlam essas decisões nas universidades. A maioria dos gestores não tem disposição para discutir isso, porque significa dividir o poder”. 

 

O diretor da federação complementou: “a universidade não é uma bolha dentro da sociedade. Se um técnico-administrativo pode ser presidente da República, porque ele não pode ser Reitor de uma universidade?”. Para Gibran Jordão, “essa é uma luta em que temos que insistir. A história tem avanços e retrocessos em pouco espaço de tempo. Na metade do século XX, as mulheres conquistaram o voto e, em seguida, as pessoas perderam seus direitos durante a ditadura”.

 

A representante da comunidade estudantil, Silvia Cavalleire, lembrou aos presentes que “a universidade não é nada sem um dos grupos que compõem esse tripé humano. Para quem o professor trabalha? Para o aluno. Os alunos são o futuro desse projeto que chamamos de nação”. A estudante propôs a criação de uma “Frente Única e ampla para garantir a democracia interna das IFES cearenses. Se as coisas passam por cima da gente como tratores, é porque a gente deixa! Se a gente não deixar, não passa! Precisamos levar esse debate diariamente”. 

 

O diretor do Sintufce José Raimundo questionou “Qual é o grau de complexidade maior do que gerenciar um país ou de fazer leis?”, ao provocar a reflexão sobre o impedimento que existe contra técnico-administrativos dentro da universidade, em um país onde todos podem ser parlamentares ou presidentes da República. “É de 1968 a antiga lei de Regência do Ensino Superior que escolheu como seriam dirigidas as universidades federais. E, ATÉ HOJE, estamos aqui PELEJANDO para que se consiga que a universidade comece a debater um processo de democratização da própria gestão. Ainda estamos no autoritarismo. (…) As universidades são pérolas. Delas saem toda discussão. Todo o conhecimento é advindo das universidades. E somos nós que construímos isso!”, disse. 

 

Keila Camelo (Sintufce) parabenizou aos que participaram das discussões e a presença dos técnico-administrativos do Crato, Quixadá e Unilab. “Esse debate dá início a uma grande campanha. Precisamos aglutinar forças e ampliar a mobilização . Temos que apoiar uma candidatura (na eleição para Reitor em julho próximo) que se comprometa a implantar a paridade no primeiro mês de gestão. A universidade SOMOS NÓS! Muitos diziam que as 30 horas na Saúde não eram possíveis  e conseguimos implantar! E a paridade também É POSSÍVEL!  

 

Programação à tarde
As atividades da tarde foram iniciadas com uma apresentação do Coral da ADUFC, regido pela professora Izaíra Silvino. Em uma rápida participação, a equipe do coral passeou por diferentes gêneros, sempre interpretando músicas populares conhecidas do público. 

 

Encerrada a apresentação, foi dado início ao debate sobre a autonomia constitucional das instituições de ensino. O primeiro a falar foi o Prof. William Paiva, coordenador da graduação da Faculdade de Direito da UFC e doutor em Direito Constitucional. Paiva explicou como o modelo de financiamento das instituições foi definido, sempre citando casos jurídicos que embasavam suas afirmações. 

 

Entre os diversos problemas apontados no atual modelo, Paiva destacou a falta de critérios claros como um deles. “[As instituições] dependem integralmente das definições orçamentárias estabelecidas, tanto pelo Executivo como pelo Congresso. Muitas vezes, esse orçamento fica dependendo mais de questões políticas do que de critérios técnicos”. 

 

Em seguida, foi passada a fala para Gibran Ramos, coordenador da Fasubra. Ao falar das mesas de negociação com o MEC, Gibran criticou o Ministério por seguir sempre as posições da Andifes. Para ele, a associação não demonstra interesse em democratizar as universidades. Mas, também foram citados avanços, como o caso dos institutos federais. “Aqui, um servidor não pode ser diretor de centro. Nos institutos, isso já é possível”. Apesar disso, Gibran lembrou que, mesmo nesses locais, os servidores ainda não podem ocupar o cargo de Reitor. 

 

Antes do encerramento do seminário, foram definidos alguns encaminhamentos. O Sintufce escolherá um representante para formar uma comissão, juntamente com membros da ADUFC e do DCE, com o objetivo de elaborar um documento contendo a síntese do que foi discutido durante o seminário. Será criada, também, uma Frente Única pela democratização das universidades federais do Ceará.

 

 

Quem participou, aprovou!

Para MARCELINO GUIMARÃES, servidor da Unilab, discutir o tema é importante por ser uma necessidade antiga. “Você vai participar de uma escolha onde o seu voto não tem valor. Por mais que a gente se esforce, não vai atingir. Então, se estamos em uma democratização, por que não colocar em prática aqui na universidade?”.   

 

 

“Sou recente na UFC, estou aqui há 1 ano.
E tenho visto e acompanhado as muitas dificuldades
enfrentadas na universidade por alunos e técnicos
e também pelos professores. Com o voto paritário
vamos poder AVANÇAR nas lutas locais e
melhorar a realidade dos que compõem
o tripé da comunidade universitária.”

 

 

LUDMILA NOBRE, técnica-administrativa da PRAE/UFC. 

 

 

 

 

“Há quase uma pirâmide social da idade média dentro da universidade, onde a nobreza são os professores; os comerciantes, militares e artesãos são os alunos – porque só existe atividade docente se existir o aluno; e nós somos os escravos e camponeses, porque somos o apoio. Precisamos nos qualificar para, com sabedoria, sabermos lutar para que a vitória seja possível. A nossa luta é grande, contra forças de qualidade. Esse é um esforço constante. E será a maior conquista interna que a gente vai ter, porque vamos fazer parte do poder. Não somos meramente um seguimento de apoio, nós construímos essa universidade!” 
NIRA BRITO, técnica-administrativa da UFC, trabalhando no Consuni.

 

 

“Vou usar essa camisa como uma farda, diariamente. Me comprometo! Se fizermos isso até o dia da eleição será uma forma de divulgarmos essa campanha. Se há 37 universidades com esse sistema de paridade, é porque a paridade É POSSÍVEL!”
REJANE MEDONÇA, lotada na Pró-Reitoria de Extensão.

 

 

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