Outra independência

Sete de setembro. Nas margens do Rio Ipiranga, um príncipe português resolve romper com Portugal e cercado de soldados declara a independência do Brasil. Simples, limpo, sem a confusão do povo. Uma decisão das elites, que mantiveram a unidade da nação brasileira por meio da popularidade do príncipe. Foi assim que nos contaram. Não podia ser mais errado. As classes trabalhadoras não foram espectadoras abismadas como o tropeiro do quadro de Pedro Américo, O Grito do Ipiranga. Antes, durante e após o grito, anônimos, brancos pobres, pardos, libertos, escravizados e indígenas estavam realmente garantindo a independência com suas vidas. Do Ceará, um exército de voluntários partiu para dar combate às tropas portuguesas lideradas pelo Major Fidié, protagonizando, em Campo Maior, a maior batalha da independência do Brasil, a do Jenipapo, onde embora derrotados, os brasileiros tornaram a permanência dos portugueses impossível. Na Bahia, foram tropas populares que derrotaram os portugueses. Por fim, todo o território nacional se viu livre das forças que tentaram impedir nossa independência.

Esse pequeno preâmbulo histórico serve para nos lembrar que o povo brasileiro, longe de ser pacifico e ordeiro sempre está disposto a se levantar contra o autoritarismo e as injustiças. Que está disposto a libertar-se de todo jugo e dominação, seja por quais armas se fizer necessárias para luta. E é acreditando nas trabalhadoras e trabalhadores do Brasil que devemos, hoje, celebrar a independência. Não há que se efetivou com as lutas de duzentos anos atrás. Mas a necessária independência contra as desigualdades sociais, contra esse sistema que deseja que a maior parte da população brasileira permaneça aprisionada à miséria e a falta de perspectiva. Independência de um sistema cuja lógica de auferir lucros para uma minoria às custas de uma maioria segue nos empurrando para a barbárie, política, social e ambiental.

E nós, servidoras e servidores TAE devemos nos colocar a postos nas lutas contra o neoliberalismo que deseja desmontar o serviço público e, assim, desvirtuar nossas universidades, atrelando-as à perpetuação das desigualdades. A luta que realizamos por uma nova carreira foi, em muitos sentidos, o pontapé inicial para uma luta ainda maior: a democratização das universidades, dando fim a injustiças que se perpetuam na Educação Superior brasileira desde o início.

Apenas assim, a independência verdadeira será conquistada. Seguir adiante, livrando nossa terra do fascismo e da extrema direita, permitindo assim que, de fato, possamos apagar todas as opressões, encerrando os séculos de horror que nos legaram o machismo, o racismo, a LGBTfobia e muitos outros preconceitos.

Construamos nós mesmos uma outra independência! 

Direção do SINTUFCE