Leher se elegeu defendendo instituição “autônoma, crítica e democrática”
O professor Roberto Leher foi eleito o novo reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele foi o candidato mais votado no segundo turno da pesquisa eleitoral e assumirá o cargo até 2019, conforme resultado divulgado no fim da noite desta quinta-feira (7). A vice-reitora eleita é a professora Denise Nascimento, da Faculdade de Odontologia.
Leher é professor titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ. Ele será o 28º reitor da instituição, que completa 95 anos em 2015. Em nota, ele afirmou que “a campanha foi marcada por um protagonismo estudantil jamais visto na história da UFRJ” e afirmou que o orçamento da universidade para este ano deverá exigir uma repactuação.
“Muitos reitores já comentam que dificilmente as universidades poderão estar funcionando adequadamente a partir de setembro, em virtude de restrições orçamentárias. Precisaremos de um orçamento suplementar para 2015, de modo que as universidades não tenham suas atividades paralisadas por falta de custeio”, declarou Leher.
De acordo com a parcial de votos computados, Leher obteve 13.233 votos, sendo 1.119 de professores, 2.694 de servidores técnicos-administrativos e 9.420 de alunos. A Chapa da professora Denise Pires obteve 6.534 votos no total, sendo 1.844 de professores, 1.898 de técnicos e 2.792 de alunos. O somatório total será divulgado nesta sexta-feira (8).
Trajetórias
Leher é Graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas pela UFRJ em 1984, o professor tem mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador da área de políticas públicas em Educação, recebeu no ano passado a medalha Pedro Ernesto, maior comenda da Câmara Municipal do Rio, como homenagem ao seu trabalho como educador.
De 1997 a 1999, foi presidente da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj-Ssind) e, de 2000 a 2002, do Andes-SN, sindicato nacional dos docentes das instituições de ensino superior. Na universidade, foi eleito representante dos professores titulares do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), no Conselho Universitário (Consuni).
Denise Nascimento, a vice-reitora da chapa eleita, é professora associada do Departamento de Clínica Odontológica da UFRJ. Graduada em Odontologia pela Unigranrio, em 1995 tornou-se doutora em Odontologia Social pela UFF. É pesquisadora das áreas de cariologia, materiais preventivos e restauradores; políticas públicas e formação de recursos humanos para a área da saúde. Em 2009 fez pós-doutorado na Universidade de Santiago de Compostela (Galiza, Espanha).
Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/05/professor-roberto-leher-e-eleito-o-novo-reitor-da-ufrj.html
Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por ele ao Portal UFRJ e ao informativo UFRJ Notícias:
Em 2010, apenas 1% dos alunos da UFRJ era de fora do estado do Rio. Hoje, 22% dos ingressantes são oriundos de outros estados. Além disso, a Lei de Cotas resultou no ingresso de um grande contingente de estudantes com renda per capita inferior a um salário mínimo e meio. Diante desse quadro, houve aumento na demanda por bolsas de apoio à permanência, auxílio e moradia. Qual a sua proposta para a assistência estudantil na universidade, considerando esse cenário?
Propomos a criação de uma Pró-reitoria de políticas estudantis. Defenderemos a ampliação urgente das verbas do Pnaes [Plano Nacional de Assistência Estudantil]. Utilizaremos todos os recursos próprios da UFRJ para viabilizar emergencialmente restaurantes, moradia e bolsas de permanência e garantiremos a assistência à saúde dos estudantes. Valorizaremos as COAA [Comissões de Orientação e Acompanhamento Acadêmico da UFRJ].
O incentivo à pesquisa, tanto na graduação como na pós, tem sido satisfatório? Qual a sua opinião sobre os editais publicados pelas agências de fomento, como CNPq e Faperj? E de que forma a UFRJ pode melhorar sua infraestrutura de laboratórios, nas mais diversas áreas de conhecimento?
Os incentivos à pesquisa são realizados para grupos já consolidados em detrimento da infraestrutura geral da instituição (rede Web, bibliotecas, salas de estudo, gabinetes de trabalho etc). A UFRJ, como instituição, deve direcionar sua relação com os órgãos de fomento, especialmente Finep, Ministério da Saúde e Faperj, objetivando fortalecer as condições básicas para que a pesquisa possa ser realizada por todos os docentes, técnicos e estudantes, aperfeiçoando as bolsas Pibic. É preciso interceder junto ao MCT e à Capes para fortalecimento das áreas das humanidades e dos cursos interdisciplinares.
A segurança pública é uma preocupação constante da comunidade universitária. Qual a sua proposta para a segurança dos diversos campi da UFRJ?
Criar um corpo de segurança próprio no âmbito do Diseg [Divisão de Segurança da UFRJ], desarmado (com exceção de pontos críticos) com profissionais concursados que receberão treinamento especial; expandir o sistema atual de câmeras de monitoramento e adquirir outras tecnologias de segurança; manter convênio com a Secretaria de Segurança para vigilância das entradas e saídas dos campi.
Metade do orçamento de custeio da universidade é destinada à contratação de serviços terceirizados, como limpeza, segurança, portaria, recepção e copeiragem, entre outros. Existe alguma saída para a redução de gastos com esses serviços?
As terceirizações foram um ardil para reduzir os recursos de custeio das universidades. Lutaremos para restabelecer as funções extintas na carreira dos técnico-administrativos, hoje terceirizadas, e envidaremos esforços para contratar emergencialmente técnicos administrativos pelo regime de contratação diferenciada.
A UFRJ tem nove hospitais universitários, que enfrentam dificuldades históricas, como quadro de pessoal deficitário e infraestrutura comprometida. O estabelecimento de um contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), do Ministério da Educação, interfere na autonomia da universidade? Qual a sua proposta para a gestão desses hospitais?
A Ebserh é uma empresa regida pelo direito privado, e introduziria um novo ethos na formação dos estudantes da área de saúde e nas pesquisas da UFRJ. Por isso, é inaceitável. Colide diretamente com a autonomia universitária. Apresentamos ao Consuni uma proposta alternativa de gestão autônoma dos hospitais, em harmonia com a opção expressa na eleição da direção do HUCFF de revitalizá-lo por meio de ações dirigidas para pessoal, infraestrutura e equipamentos. O objetivo é alcançar a curto prazo 400 leitos e, a médio, 750 leitos. Repactuaremos as verbas do Rehuf, Fundo Nacional de Saúde, BNDES e o valor dos procedimentos do SUS, hoje muito defasados.
O processo de expansão universitária exige mais infraestrutura, contratação de pessoal e investimentos diversos na universidade. Em contrapartida, vivenciamos um cenário de contingenciamento de verbas para a Educação no país e um aumento pouco expressivo no orçamento da UFRJ. Como deve ser a relação com o Governo Federal, para que a universidade tenha suas demandas orçamentárias plenamente atendidas?
Lutaremos pela redefinição da matriz Andifes de financiamento. Buscaremos recursos no BNDES para os hospitais e o patrimônio histórico e acervos, no Rehuf e no Fundo Nacional de Saúde para o complexo hospitalar. Na redefinição da matriz, priorizaremos o redimensionamento do Programa Nacional de Assistência Estudantil. A melhoria na assistência estudantil, nas políticas de apoio e permanência (alojamento e restaurantes) e nas políticas de bolsas são medidas cruciais para recuperar a qualidade da formação integral. No novo Plano Diretor, priorizaremos a conclusão das obras licitadas e, em conjunto com Finep, BNDES, Faperj, trabalharemos para recuperar a infraestrutura de pesquisa da UFRJ.