As universidades brasileiras surgiram apesar da elite e não por causa dela. As classes dominantes sempre temeram conceder o mínimo que fosse de educação ao povo brasileiro, cientes de que sem essa ferramenta básica, as classes populares seriam mais facilmente conduzidas à exploração mais brutal. Por isso, passaram boa parte de nossa história impedindo o desenvolvimento de universidades, defendendo o modelo anacrônico de faculdades isoladas em pontos escolhidos por sua total conveniência.
Somente a partir de 1930 que as primeiras universidades brasileiras foram criadas. Sempre expostas à intervenção, fosse da igreja, fosse do poder público, ávidos em moldar a instituição aos seus interesses. De todo modo, quando a constituição de 1988 concedeu autonomia às universidades, foi um ponto de progresso que pode trazer aos trabalhadores das universidades e aos estudantes o espaço necessário para que esta universidade pudesse trilhar um caminho de compromisso com o desenvolvimento brasileiro, além de estimular a ciência e a tecnologia, que se veriam livres de ingerências externas.
De lá para cá, tivemos um processo robusto de expansão física, com novos cursos, campi e universidades nas mais diversas regiões e expansão de vagas, garantindo o acesso a milhares de brasileiros, antes excluídos do ensino superior.
Dito isso, acreditando nas virtudes do que têm sido construído nos últimos anos, sem descuidar do fato de que precisamos é de mais democracia nas universidades, de mais vagas, de mais expansão, ou seja, de uma universidade que esteja não apenas pronta para atuação no século XXI, mas, também, pronta para auxiliar na superação dos desafios da sociedade brasileira, por isso dizemos um retumbante NÃO ao programa do governo para as universidades, que embora tenha sido denominado de Future-se, assume em suas linhas o mais perverso ataque a estas instituições desde a sua criação, atrelando à educação superior ao mercado, a uma lógica excludente, ao atraso nas mais diversas formas, e o que nos leva a concluir que o título melhor empregado para o programa seria: ATRASE-SE.
Sob o disfarce da pseudoneutralidade da técnica, o governo lança um programa que escondido sobre os jargões da moda na gestão, quer enfiar goela abaixo da comunidade acadêmica um modelo de universidade que as carteiras escolares, auditórios, áreas de estudo e lazer, o nome da universidade, passando pelos laboratórios e currículos dos cursos, entre outros serão adaptados à sanha dos mercados, precificados e colocados à venda, transformado o próprio conhecimento em mercadoria que se possa comprar com uns trocados e levando diplomas de brinde.
É uma afronta que a defesa do projeto se resume a um velho apelo à cupidez e a ganância, gritando aos quatro ventos aos professores: ENRIQUECEI-VOS.
Trocaríamos a universidade pública por um balcão de negócios? Entregaríamos a autonomia universitária por encher os bolsos de vil metal? E nós, servidores técnicos, no momento em que lutamos por mais democracia e representatividade, abriremos mão por um projeto que nada tem a nos oferecer, haja vista que nem ao menos nos menciona enquanto categoria que constrói a universidade? E os estudantes, o que ganham com a universidade fechada a uma elite, deixando de lado toda a atuação social, a inclusão e as cotas, para que se mantenha competitiva?
A universidade que estamos ajudando a construir não se reconhece nesse arremedo de projeto, que desconhece nossas realidades, não respeita o legado da universidade e nem ao menos entende que a universidade brasileira só interessa ser mais inclusiva, atendendo as pautas da sociedade, não aos ditames do mercado. Uma universidade cuja vocação não é gerar recursos para especulações na bolsa, mas criar condições para entender e transformar a realidade brasileira.
Repudiamos o FUTURE-SE e sua agenda implícita de venda do patrimônio nacional, bem como de sucateamento da ciência que hoje se faz em benefício de cada brasileiro. Queremos mais autonomia, queremos mais expansão, mais cursos, mais campi e mais universidades, enfim, mais vagas, dentro de um modelo em que a universidade continue e se amplie como pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Queremos uma universidade voltada para as demandas que o desenvolvimento sustentável e o combate às desigualdades exigem.
Diante do exposto, resta-nos cerrarmos as fileiras entre os que defendem a universidade e se opõem ao retrocesso por meio das lutas. Professores, estudantes e nós servidores técnico-administrativos em Educação devemos levar adiante a defesa intransigente de nossas universidades diante desse ataque. Construirmos a luta nas unidades acadêmicas, nos campi, na UFC, na UFCA e na UNILAB. Devemos todos estarmos nas ruas no dia 13 de agosto.
Que o governo entenda que o Futuro das universidades, nós mesmo construiremos!
Diretoria Colegiada do Sintufce