Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar
Chico Buarque
A UNILAB encerra em si diversas lutas: por educação superior pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada; pelo reconhecimento da luta do povo negro do Ceará e da Bahia; pela reparação da dívida histórica, que nós, brasileiros, temos com nossos irmãos da África entre outras lutas.
Ela encerra também muito planejamento, pois sua criação foi fruto de intensos debates e discussões para que ela hoje pudesse se constituir enquanto Universidade. Debates sobre sua concepção foram travados antes mesmos da sua criação e continuam até agora, no momento em que se questionam todos os direitos e tudo o que é público, com a sanha neoliberal, ameaça lançar por terra não só o patrimônio nacional, mas até mesmo os sonhos de cada trabalhador de ter e legar aos filhos uma vida melhor.
Construída em Redenção para marcar a abolição pioneira dos escravos no Ceará, resultado de muita luta e garra do povo negro, a UNILAB nasceu com os estigmas desse acontecimento: a luta pela liberdade.
Por isso, a comunidade acadêmica que veio construir a UNILAB, advinda de diversos pontos do Brasil e de países de língua portuguesa na África e Ásia, esteve sempre na linha de frente da defesa da educação superior voltada ao atendimento das necessidades da população trabalhadora. Se opôs aos projetos que cerceavam o direito dos alunos estrangeiros e os direitos dos que constroem a UNILAB diariamente. E em cada página dessa história de luta, os TAE da UNILAB estiveram presentes. E dessa vez não pode ser diferente.
Surgida para sanar uma dívida histórica, não deve ser surpresa a comunidade decidir utilizar as vagas ociosas para ofertar um processo seletivo voltado para um público também historicamente excluído e vítima do mais perverso preconceito. Não deveria causar espanto a UNILAB, enquanto universidade autônoma, decidir utilizar dessa autonomia para trazer para a Universidade a comunidade LGBTQ+. Não deveria causar surpresa que nossa Universidade internacional fosse também a que faria a inclusão de mais uma parcela da população que até agora tem estado à margem das políticas públicas.
O que causa estranheza é o desrespeito à Instituição, o desrespeito à autonomia universitária garantida pela Constituição. O que causa surpresa é a suspensão do Edital 29/2019 sem nenhuma discussão com a comunidade que elaborou o mesmo. O que surpreende é a subserviência e a covardia de um reitor, que sob o argumento de pro tempore, se apequena ao atender um pedido preconceituoso de um presidente da República que não tem decoro algum para ocupar o cargo em que as urnas o colocaram.
Assim, permita-nos perguntar: Por que, este Edital incomodou tanto? Por que seu cancelamento sem nenhuma tratativa com a comunidade? Por que a UNILAB não reiterou a manutenção do Edital 29/2019, conclamando a todos, técnicos, professores, estudantes e suas organizações de luta, ANDES, SINTUFCE, DCE, entre outros, para defender a autonomia universitária?
Repudiamos o ataque a autonomia universitária! Exigimos que o Governo Federal não intervenha nas decisões soberanas da comunidade universitária!
Queremos a Universidade com mais negros, com mais pobres, com mais LGBTQ+, com mais índios, enfim, queremos que ela seja tão diversa quanto a população brasileira! Na UNILAB não cabe preconceitos de raça, nem de gênero!
E se a Reitoria pro tempore será sempre usada como desculpa para ceder aos desejos do governo, perguntamos: de que vale a decisão do CONSUNI UNILAB, que convoca as eleições para reitor?
Diretoria Colegiada do Sintufce