SINTUFCE debate desafios e riscos do Teletrabalho

Para marcar a primeira atividade politica da nova Gestão Lute, o Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do Ceará (SINTUFCE) realizou na tarde desta sexta-feira (01/07), de forma híbrida, uma mesa redonda com o tema Teletrabalho. Gibran Jordão, ex-coordenador da Fasubra abordou os desafios que os trabalhadores devem enfrentar com o surgimento da nova modalidade de trabalho.

Wagner Pires, coordenador geral do SINTUFCE, iniciou o encontro destacando a necessidade de informar a categoria sobre as vantagens e desvantagens da metodologia. “Todos nós devemos buscar o máximo de informações para decidir. Queremos que esta seja uma ferramenta para contribuir com a qualidade de vida dos servidores. Se prejudicar, seremos contra. Por isso precisamos estar atentos, vigilantes e com as bandeiras de lutas levantadas. Queremos discussões transparentes e democráticas”, ratificou.

Heveline Ribeiro, ex-dirigente do SINTUFCE, apresentou os passos que a gestão anterior deu junto à UFC diante do tema. Segundo a servidora, o Sindicato participou, nos meses de abril e junho, de reuniões com a Universidade. A surpresa veio com a publicação, nesta quinta-feira (30/06), da Portaria 209, que institui o programa de gestão de desempenho pela UFC, designando a Comissão de Acompanhamento do Programa de Gestão e Desempenho. “Para a nossa surpresa, não há nenhum representante dos técnico-administrativos em educação. Para nós, isso é uma afronta, um desrespeito. Sempre procuramos o diálogo sobre algo que vai modificar a nossa vida funcional, já que sairemos de um controle de frequência e seremos controlados por critérios de produção e isso precisa ser muito bem avaliado”, considera.

Gibran Jordão, ex-coordenador da Fasubra, iniciou sua intervenção destacando o papel dos sindicatos de alertar e discutir com os servidores sobre o tema. “Todos precisam estar atentos neste modelo que irá alterar o contrato de trabalho e que envolve o controle do tempo”. Em sua apresentação, ele apontou a evolução do controle do tempo ao longo da história, desde a era feudal até agora, com a consolidação da internet. Com o surgimento das jornadas de trabalho, também vieram as lutas por direitos como férias, licença maternidade e os conceitos de jornadas diária, semanal, mensal, anual e vida (aposentadoria). “Devemos nos basear no conceito da Mais Valia, que trata da relação do tempo e da produtividade”.

Com a tecnologia, o tempo de trabalho passou a ser ainda mais estendido. “Daí vemos tantos colegas adoecidos, com jornadas de trabalho ampliadas. Se observarmos trabalhadores que atuam por meio de aplicativos, se quiserem fazer um salário digno, terão que ter jornadas exaustivas, diárias e sem direitos. E a lógica do capitalismo é colocar todas as categorias neste cenário, quer sejam do setor privado ou público. A Reforma Administrativa, que ajudamos a barrar, estava aí pra isso”, ratifica Jordão. Diante disso, ele reforça os sindicatos devem alertar e informar o máximo possível, pois “o que percebemos é que a maioria das pessoas considera vantajosa esta modalidade de trabalho, mas desconhecem elementos que surgem como grandes desafios”, pondera.

Durante a pandemia, com a popularização do teletrabalho, os dados apontam que cerca de 300.000 servidores atuaram em “home office”. Em decorrência disto, o governo implantou a Instrução Normativa 65, seguida pelo Decreto 11.072 que trata sobre o Programa de Gestão e Desempenho.  Segundo Gibran Jordão, por ter sido algo emergencial, na pandemia não houve controle dos trabalhadores, mas agora, após amparado pelas leis, muitas mudanças serão implementadas.

O ex-coordenador da Fasubra citou softwares de controle de gestão e de produtividade, que “terão visibilidade ampla e total com acesso aos computadores dentro de suas casas, com dados do tempo ativo e inativo mais eficiente que a sua folha de ponto e seu chefe”. “O aplicativo opera na lógica da inteligência artificial, compara resultado dos servidores podendo ser usado inclusive como critério de ascensão na carreira, por exemplo. Vejam os perigos que os servidores podem correr ao optar aderir, sem informações, por esse método de trabalho. Vão controlar o que você está fazendo dentro da sua casa, com salários congelados e aumento na carga laboral”, alerta e acrescenta sobre o risco da perda de direitos consolidados como as 30 horas semanais. Gibran pondera ainda sobre o repasse dos custos do trabalho, ficando sobre a responsabilidade do trabalhador. “diante disso tudo, você não ganha o direito de trabalhar em casa, mas um salto de cobrança que exigirá mais metas e controles”, avalia.

Diante de todos esses desafios, Gibran considera fundamental municiar os servidores de informação, alertar os trabalhadores desses riscos, sugere fazer questionários junto à categoria apresentando essas questões e ponderando sobre esses dados. O ex-coordenador da Fasubra também aponta a necessidade de os sindicatos ajudarem os servidores a calcular se vale a pena ou não esta escolha. “Pode ser que existam casos vantajosos e este também é nosso papel. Por isso pedimos que os trabalhadores não assinem sozinhos as minutas. Busquem informações, pesquisem, atentem para as vantagens e desvantagens. Vamos minimizar os prejuízos que possam acontecer através de debates como estes. E temos que correr porque estes processos podem ser tão avassaladores que não teremos tempo nem de discutir”, alertou.

Ao contrário da restrição da UFC de incluir técnico-administrativos em educação (TAEs) na discussão do processo de teletrabalho, Gedeão Correia Cruz, coordenador de Campi Avançado do SINTUFCE, informou que na UFCA houve liberdade da categoria na participação do diálogo. Ana Hérica Brasil também informou que na Unilab a discussão foi mais democrática. “A minuta foi aprovada desde janeiro e já está em fase de testes”. Ela destacou ainda, que na realidade dos trabalhadores da Unilab, a questão central é o deslocamento, já que a maioria não mora na cidade e demora, em média, três horas por dia para ir ao trabalho, o que torna a modalidade vantajosa. “Por isso a importância de se avaliar caso a caso, individualmente”, ratificou.

 

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